segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Perdão chuchu!

Ao chuchu sempre coube o meu desprezo. Sequer o consolo da repugnância, que ao menos define senão as coisas, os sentimentos. Quase uma pessoinha boa, mas chata! Confesso: às vezes prefiro os malvados aos chatos, pela pura razão de não saber lidar com os segundos sem sentir-me invadida ou corróida por remorsos. Os maus mobilizam-me: revidar, odiar e quiçá vingar. Já os chatos... Não consigo odiá-los em paz, ignorar as insistências telefônicas, ou simplesmente esconder-me atrás de postes e árvores, sem sentir cheiro de culpa e enxofre; ou ainda enxergar nas nuvens, seus rostos magoados. Era assim com o chuchu. Tão diferente do fígado, que odeio e ponto! Já comi desavisada e achei que a carne estava estragada. Certeza libertadora. Mas voltando ao chuchu, nunca me acostumei com o líquido rompido, destoando de sua textura. Nem aos apelos: _ é gostoso, não tem o gosto do chuchu. Ora, para que comer algo sem sentir? Deprimente como falta de tesão!
Sem contar as investidas dos consultores organizacionais que comparam as pessoas a chuchus e pimentões: "o que você quer ser? alguém que deixa sua marca ou absorve tudo ao seu redor? Pobre chuchu e nesse caso também, pobre pimentão e pessoas.
Segui tranqüila minha vida sem sentimentos viscerais ao chuchu.
Até que um dia, minha sogra (sim, minha sogra) apresentou-me ralado com coentro: sem sorrisos, mas convicta: "_ Parece camarão"! Não achei. Como pode parecer camarão?
Mas, confesso: nesse dia fui tocada! Fiz raladinho, punhadinhos de outras ervas (mas nunca movida por pretensões alquímicas de transmutar chuchu em camarões...).
Até que um dia, vindo sei lá de onde , uma imperiosa vontade de comer suflê de chuchu me deixou insana (juro: nada de larica!) .Aventurei-me... Vozes do passado sussurravam algo como lavar em água corrente para não manchar as mãos. Não sabia o que fazer com aquela parte branca (ainda não sei).
Sei exatamente o momento em que a paixão eclodiu: quando misturei o estranho creme verde (não fica uniforme quando processado) ao bechamel e seda nova surgiu! Colherada boca a dentro, cru ainda. O suflê a despeito de tudo que já ouvi, cresceu lindo ao som de rock distorcido do meu radinho e ignorou minha vigília isana na porta do forno.
Minhas papilas gustativas acordaram para essa nova experiência. Reconheci a sutil dirença entre suavidade e sem-gracice. Aquele verde-criancinha não foi deixado de lado nas brincadeiras do queijo e ovos: reinou!
Veredito: sim, eu gooooosto muito! Todo do problema era a textura.
Ação: pela graça concedida espalhar "santinhos digitais". E para começar bem o ano:
Perdão chuchu! Obrigada Dona Jacy!
Em breve, as peripécias de Chuchu e Eu. (E não é que lembrei-me que o meu primeiro beijo foi com um tal de Chuchu?!)

4 comentários:

Neide Rigo disse...

Lili,
este blog está demais! Acertei quando fiquei te enchendo para cria-lo. Você escreve muito bem e eu já bem o sabia.
beijos e parabéns!!
Neide

Unknown disse...

Vim até aqui seguindo a Neide - e não me arrependi! maravilhosa prosa e estimulante incentivo às papilas gustativas!!! vou seguir acompanhando, embora raramente me manifestando. Parabéns!!!!!!!!!!!!

AleMadeo disse...

Lili,

Chuchu é bom demais! que bom q vc (se ou)o redimiu!!!!
Tem também salada morna de chuchu e ovos também cozidos, temperados com limão, sal, azeite e salsinha! E bolinho de chuchu (ralado cru, misturado a uma massinha de farinha, ovo caipira ogânicos - sempre -, fermento em pó, sal e cheiro verde finamente picado e frito...muito bom!!)...nada melhor para se comer com arroz e feijão fresquinho!!!! Ou sozinho, mesmo! Dos deuses!!!! Aí é q se entende pra que existe chuchu nesta vida!
Bjs e boa semana,

Alessandra Madeo

Anônimo disse...

Lili, você é ótima. Tanto é, que conseguiu dar um tempero especial com palavras inteligentes e bem colocadas para o tão esquecido e mal interpretado chuchu. Beijos!!!!