Era preciso escrever um bilhete. Mas, fosse o que fosse escrito, não seria suportado por qualquer papel. A assepsia alvejada do sulfite, o cenário dos papéis de carta ou pautas definidas, não contemplariam mensagem tão angular.
Buscou papéis do passado e soube o que queria: papel de pão. O adeus escrito no papel de pão imortalizado em músicas, poesias e fofocas da vizinhança: “Escreveu Adeus no papel de pão e se foi para sempre”. Tentou lembrar-se desse e de outros papéis distantes.
O tal, do pão, às vezes fino e encerado, era disputado pela criançada muito mais para desenhos, do que para cartas de despedida, felizmente.
Em rosa inconfundível vinha a carne embrulhadinha dos açougues.
Outro rosa era do papel higiênico, que devido a sua falta de gentileza, preferiu não aprofundar as lembranças,
As bananas embrulhadas em jornal, as argentinas maçãs em ninhos de papel roxo, balas duras de mel e hortelã embaladas em papéis permeáveis.
E agora, qual papel escolher para o bilhete da sua vida? A dramaticidade do adeus e do papel de pão, o roxo perfumado de tango e juras de amor, ou folhas de bananeiras marcadas a ferro com as quenturas da carne?
Assustada com a dureza de seus veredictos e sem fôlego para as certezas, decidiu por hora escrever no vento e distrair-se com as notícias vencidas do jornal das bananas.
2 comentários:
Querida Lili! Saudades de voce.
Que delicia ler suas escritas.
Por favor, continua escreendo!
Beijos...Joelma
Joelma,
Saudades! Que bom que você tem lido, beijos
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