sábado, 3 de outubro de 2009

Amor pastelão

Sempre amei as sextas-feiras. Antes mesmo de trabalhar, estudar ou beber. Esse amor sempre teve gosto. E já que tinha feira pertinho de casa às sextas-feiras, que gosto poderia ter senão de pastel? Afinal as frutas, que na maior parte do ano se resumiam à bananas, laranjas, e em menor oferta, maçãs , visitavam meus dentes de leite por toda a semana. Já, sua majestade o pastel, não! Sexta-feira de queijo ou carne. De palmito não, já que era enganação de maisena. Se a sexta e a feira tinham gosto de pastel, o pastel também tinha o gosto da feira. Serpente colorida e barulhenta que tomava a rua, exalando cheiros daqui e de outros cantos: doces árabes, maçãs argentinas vestidas de roxo , e finalmente o óleo saturado, anunciando os japoneses mais legais do mundo: os brasileiros! Boa parte da feira tinha olhinho puxado, nas bancas de peixes, verduras e frutas. O bananeiro chamava-se Massame e nada me convencia que ele estava na barraca errada, pois o nome ornava mais com a outra fruta. Podia faltar qualquer banca, menos a do japonês do pastel. Os pastéis saiam de gavetinhas mágicas, inflavam-se de orgulho no óleo fervente, pois sabiam que todos salivavam por eles. Definitivamente era sexta-feira e tudo estava em ordem.
Muitas sextas-feiras depois, umas 1296 aproximadamente, lá estava eu: a depressão com cabelos desgrenhados no velho continente, em uma maravilhosa feira. Filha da mãe como só, buscava em meio à tanta beleza e possibilidades, tudo o que pudesse me entristecer ainda mais, como crustáceos ainda vivos. Mesmo com minha determinação maligna era impossível ignorar a tesudice dos pêssegos. Mas, a pirraça tem a força das paixões. Queria goiabas, jabuticabas e magias. Teimei com meu então namorado, que talvez lá no final, teria uma banca de pastéis.
_ Não, não tem!
Diante de meu olhar carbonizador, tentou a lógica:
_ Eu moro aqui, eu sei!
_ Você não muda mesmo, sempre com tantas certezas, o mundo muda ,viu? Vai que um japonês lançou moda!
_ Aqui não tem muitos japoneses como no Brasil, tem mais coreanos, chineses...
E lá eu ia, me desmantelando a cada pisada dura, pois sabia que no final da rua não haveria nenhum samurai pasteleiro para nos salvar. O nosso pastel era de vento quente, e os ventos mudam....

2 comentários:

Fabrícia disse...

Lili que saudades das suas crônicas .... Esse texto também me fez viajar no tempo e sentir saudades das coisas simples que a vida nos proposciona ... como um pastel de queijo e um copo de caldo de cana. Saudades do Brasil, dessa simplicidade e humildade ...
Beijocas para ti.

Jane Malaquias disse...

Haverá sempre um pastel no final do túnel!