quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Memórias Gustativas

Condensar as memórias dos meus sabores. Difícil tarefa! A palavra condensar evoca lata de leite condensado, lambida à exaustão, língua e dedos obstinados sob a ameaça das farpas metálicas.
Selecionar as memórias mais marcantes, escolher a dedo...
Escolher... E lá vou eu novamente, túnel do tempo: vulcões de feijão crú na mesa de fórmica, meus dedinhos escolhendo o destino de favas, carunchos e pedras.
Obviamente o feijão desperta o arroz ! O aroma do refogado de cebola e óleo, o protesto do arroz por ser jogado na panela quente : chiiiiiiii; anunciações do fim das brincadeiras lá fora, antecipando o cheiro de sabonete que viria em seguida.
Leite-com-café tomado na mamadeira rosa, exalando cheiro de plástico novo, é minha memória mais antiga. Rito de passagem: leite dos pequenos e café dos mais crescidos.
Gosto híbrido: conforto do leite e o café impelindo-me ao mundo que se apresentava.
Sinapses de comida e sentimento fervilham meu cérebro. E de repente é urgente falar dos temperos de ambos. E se eu como o mundo, sou esse mundo e por ele sou devorada, são inúmeros os relatos antropofágicos.
Mas já que o objetivo é degustar algumas memórias e não se empanturrar com uma enciclopédia, marchando: algumas delas.

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