domingo, 13 de janeiro de 2008

Liberdade!


Tive anos de alma e paladar enferrujados. Faculdade: comida de bandejão.
Ideologias engolidas sem deleite, acompanhadas de salsichas, miojos, café solúvel e conhaques marvados. Mas, saberes e sabores mancos não saciam. E vontades não reveladas causam lombrigas.
No meu clã comemorávamos quando um restaurante de status era interditado (a inquisição teve uma reedição no final do século passado), comemorávamos cheios de inveja, disfarçada de fervor revolucionário.
Voyers amaldiçoando as festas de Babete, para as quais nunca éramos convidados. Afinal, quem convida chatos não-ilustres e não-familares? Nossa chatice era maior que a distorcida religiosidade dos convivas do filme e a nossa concepção de beleza e prazer, aprisionada pelo cego espartilho ideológico. Fosse música, literatura, hobbies, até comida, tudo passava por um crivo político,pretensamente onisciente.
Finalmente percebi que minha alma, assim como meu paladar, não estão confinados à classes, castas ou clubes.
Emergi com o desespero dos afogados!Busquei não só o ar que me faltava, mas todos os gostos; os que já conhecia e os que me atiçavam. Voracidade pantagruélica foi precisa, a fome de mundo despertou furiosamente. Excesso e descomedimento:efeitos colaterais da liberdade recém conquistada. Mas, a fome da hibernação vêm cedendo lugar a sedução mensurável de textura, cor, forma, cheiro, sabores livres.
Estendo minha língua, tapete nobre para os convidados. Alguns dóceis, outros exatos no ponto de amargura, incandescentes e insossos também, pois às vezes careço de pausa.
Quando posso, o corpo inteiro viaja e quando não, a língua leva corpo e alma, em buscado dos sabores sabidos!

8 comentários:

Anônimo disse...

Me deixou emocionada. Liberdade tem delicioso sabor. Beijos Joelma

Jane Malaquias disse...

Eu adorava o bandeijão da faculdade , era melhor que a marmita lá de casa onde meu pai misturava feijoada, vatapá e moqueca na mesma quentinha.

Cris disse...

Um brinde! Encontrei você lá no sopa vermelha, quando disse que conhecia os pés-de-moleque! :-)

Anônimo disse...

Blog deleitável ! Amiga está o máximo. Continuuuuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee escrevendo. Parabéns!!!!!!!!!!!

Fabrícia disse...

Que belo post....parabéns!!!! Vc conhece os pés-de-moleque??? São fantásticos né....únicos. Me deliciei com eles....A Cris(http://fromourhometoyours.blogspot.com/)foi fantástica na escolha ...
Bj grande para ti.

Fabrícia disse...

Oi Lili,
Não se preocupa não....eu tb sou das rapidinhas....
Conheço o livro sim mas não li ainda....tradução da Nina Horta. Estou lendo "Deve ter sido alguma coisa que eu comi", do Jeffrey Steingarten.Conhece?
Bjcas para ti.

Jane Malaquias disse...

A liberdade é tanta que nunca mais escreveu nada. Mas quem sou eu para falar...

Anônimo disse...

Tanta liberdade pode nos impelir a errar, mas também nos dá oportunidades de escolher os melhores caminhos sob a ótica de alguém que não tem medo de errar como você! O seu blog está apaixonante, Lili!!!! Você é ótima!