quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Sopa de Leopardo


Essa memória recorta do tempo um punhado de carinho fraterno.
Adorávamos brincar de comidinha. Comestível ou não. Nossos bolinhos de areia eram finamente decorados com tatuzinhos-de-jardim (que invariavelmente arreganhavam-se todos na hora do parabéns à você).
Lá em casa sobremesas não eram fatos, precisavam de merecimento, ou melhor de provações: conseguir sobreviver a todos os pratos que detestávamos! Especialmente às torturas líquidas- fumegantes: sopas que ocultavam terríveis legumes (que hoje adoro). Tudo temperado fartamente com lição de moral:
_ Há muitas crianças que não tem um pedaço de pão-velho para comer. ´
Frase tão antiga quanto o mundo. Infelizmente ainda é verdadeira, e infelizmente isso não aplaca a miséria do mundo... Só enche os pratos de culpa, erva maldita e maligna!
Fosse fruta trivial ou manjar dos deuses (no caso, o de coco mesmo), o ritual era esse.
Primogênitos em geral são extremos: ou chutam o pau da barraca rebelando-se contra tudo, ou guardam o pau da barraca com suas próprias vidas, aperfeiçoando as regras paternas.
Minha irmã mais velha pertencia ao segundo gênero. Quando ganhávamos ou desviávamos alguma iguaria da cozinha, ela reclamava seus direitos de nascimento, controlando os víveres e as irmãs mais novas. Antes de comermos a banana amassada, paçoquinhas, fosse o que fosse, tínhamos de tomar a temida “Sopa de Leopardo”. Preparada por ela com esmero: água da torneira servida em pratos fundos, tomada à infindáveis colheradas.
Às vezes fingíamos que não gostávamos ( o que realmente era verdade, quando tínhamos que repetir o prato) e outras que adorávamos cada colherada daquela água fria com gosto metálico.
Que sopa divina! Gosto pungente de raríssimos Leopardos invisíveis, encharcados com molho de risadas. Perfeição! Perfeição é sentimento, assim como receita de família.
Beijos! Obrigada pelas boas-vindas!

12 comentários:

Carlos Alberto de Lima disse...

A Neide falou de você. E como ela é assídua no meu cantinho resolvi vir conferir...

Vou ficar passando sempre por aqui!

Neide Rigo disse...

Que ótima crônica, Lili! Beijos, n

Fernando Gouvea disse...

Sua irmã era legal, cuidava da hidratação da pele das irmãnzinhas.
abraço

Eduardo Luz disse...

Também cheguei aqui através do Come-se e também ( que novidade!) achei os teus textos bastantes originais e interessantes. O conselho que iria dar, você já corrigiu : colocar imagens pois assim a "leitura" fica mais "fàcil". Parabéns e vou te linkar lá no meu blog.

AleMadeo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
AleMadeo disse...

Cara Lili (já fiquei quase íntima, vê?), também vi seu farnel no blog da fofa da Neide...sem comentário...aliás...seriam muitos comentários...mas prefiro não me estender, suas rendas, pérolas, tatuzinhos bolas, pastéis de belém e bolinhos de feijão fradinho...são lindos, todos....muito lindos mesmo! Fique tranquila que os textos são belíssimos...e as visitas às suas saborosas palavras já estão garantidas!
Bjs e feliz ano novo, já tendo começado em grande estilo...

Carlos Mauricio Farjoun disse...

Eu sempre te disse que seus textos eram ótimos. Excelente idéia de colocá-los na internet, assim outras pessoas podem ter o prazer de lê-los. Parabéns!

Anônimo disse...

Moça AMEI o blog, está de parabéns!! espero que sempre encontre tempo para postar, pois estarei sempre entrando para procurar seus deliciosos escritos.

até mais
e feliz 2008

Anônimo disse...

Vamos ver se agora da para comentar sem ter cadastro no Google. Aguardando novas e deliciosas crônicas. Beijos

Jane Malaquias disse...

Acho que vou tomar um suco de leopardo agora mesmo para comemorar

Fabrícia disse...

Que delícia de blog... Bom demais.
Parabéns.

Anônimo disse...

Pior que é verdade, não é, Celeste? Bolo de areia com tatu-bola... kkkk.
Gostei do seu Blog. Meus parabéns!

Aqui quem escreve é o irmão do seu amigo Nario Maçarico.